Imagem panorâmica em animação de estádio/arena do Manchester United da Inglaterra.
Introdução
O futebol era inicialmente disputado em terrenos que não eram definidos, não havia regras que delimitassem o número de jogadores para ambos os lados e o que se via eram aglomerados de pessoas em volta deste espaço para acompanhar a partida (ELIAS; DUNING, 1992). Somente no ano de 1875 implementos como o travessão foram incorporados à prática do futebol, não havendo ainda nenhuma recomendação específica quanto à delimitação de onde o jogo acontecia. A partir do destaque que estas partidas obtiveram junto ao público as instalações para a prática da modalidade começaram a ser construídas.
O processo de evolução da estrutura e construção pelo qual os estádios de futebol passaram reflete, em parte, a própria transformação pelo qual o fenômeno esporte passou. Segundo MORGAN (2008), a mudança no estilo de vida da população interferiu no desenvolvimento de novas instalações esportivas, uma vez que suas necessidades mudaram ao longo dos anos. A visão da sociedade no que diz respeito à saúde, segurança e entretenimento fez com que suas preferências recreativas se voltassem para espetáculos onde o conforto e a comodidade fossem assegurados.
No entanto, para compreender o processo de transformação pelo qual os estádios de futebol passaram é necessário também compreender a história das instalações esportivas e como estas surgiram. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi levantar e analisar os elementos presentes na evolução dos estádios. Foi realizada revisão de literatura sobre os aspectos voltados a origem, construção, modernização dos estádios e dos impactos sociais intervenientes nesse processo. Tal análise possibilitará a compreensão do processo de construção dos estádios brasileiros e servirá de base para se traçar um paralelo com a concepção atual que se tem dos estádios de futebol.
Instalações esportivas na era antiga
A definição do termo instalação esportiva apresenta algumas divergências. Uma vez que todo o espaço em que se realiza a prática esportiva for considerado uma instalação esportiva, teríamos de considerar também como instalações esportivas lagos, gramados, ruas e áreas recreacionais abertas, pois neste locais eventualmente são realizadas provas e prática esportiva, mas estes locais são geralmente excluídos da definição geral (FRIED, 2005). Para então melhor definir nosso objeto de estudo, consideramos instalação esportiva uma estrutura natural ou artificial previamente preparada para garantir a sua utilização em termos esportivos.
Para entender o processo de construção pelo qual as instalações esportivas passaram, temos de remontar às instalações encontradas na Grécia e em Roma nos períodos antigos, uma vez que fatos associados a estas instalações nos sugerem que nas estruturas modernas ainda se usam estratégias utilizadas para a construção destas instalações na antiguidade (FRIED, 2005).
Se nos reportarmos à Grécia antiga podemos verificar a importância que as grandes instalações esportivas tinham naquele tempo. O estádio Olímpico de Atenas, construído em 331 a.C., tinha sua estrutura em formato de U com capacidade para 50 mil espectadores. O original estádio olímpico na cidade de Olímpia, construído anteriormente em 776 a.C., tinha uma conotação religiosa implícita na instalação e era local de grande aglomeração de pessoas durante as celebrações e competições (FRIED, 2005), ou seja, os locais eram utilizados não só para a prática esportiva, mas também para outros tipos de celebrações.
No Império Romano, os líderes tinham grande interesse em entreter a população para que esta não questionasse as barbáries cometidas pelo império e sendo o povo romano um povo amante do esporte viu-se na utilização dos estádios uma grande oportunidade de desviar o foco de atenção da população e dos líderes para os grandes eventos organizados pelo império (FRIED, 2005), estratégia que veríamos se repetir ao longo da história.
As antigas estruturas gregas serviram de base para as instalações que seriam construídas pelo Império Romano, com o Coliseu sendo a estrutura de maior destaque desta época. Sua construção foi iniciada por volta do ano de 70 d.C. e levou cerca de dez anos para ser completada. Com capacidade para 50 mil pessoas, os lugares eram numerados e acredita-se que apenas 15 minutos eram suficientes para todos se acomodarem em seus assentos, que eram divididos de acordo com a classe social do espectador (FRIED, 2005), devido ao grande número de acessos que o público possuía (ARAÚJO, 2008).
Ainda segundo ARAÚJO (2008), o Coliseu apresentava muitas das estratégias utilizadas nas mais modernas instalações atuais, como a inclinação das arquibancadas para permitir maior visibilidade ao público presente para assistir o espetáculo, elevadores de palco, rampas de acesso e espaços de movimentação que permitissem que grandes estruturas adentrassem ao Coliseu para que fosse possível a realização de diferentes espetáculos.
Cereto (2004) faz uma interessante observação no que diz respeito ao que hoje chamamos de vestiários. No modelo de estádio utilizado em Olímpia já existia um túnel onde os atletas aguardavam o horário de entrada e que dava acesso à área de competição. No Coliseu havia galerias onde gladiadores aguardavam a luta iniciar. Em algumas instalações romanas, havia espaços para alimentação dos espectadores e local para comércio próximo à instalação (FRIED, 2005), característica tão cobrada dos estádios modernos: a construção dos mesmos junto a áreas de entretenimento e compras.
A própria segregação dos espectadores, citada por CERETO (2004), pode ainda ser constatada hoje pelos mesmos motivos do passado, ou seja, a classe social do espectador, uma vez que o local ou tipo de espetáculo que o indivíduo assiste depende do quanto ele pode pagar pelo ingresso. A magnitude das instalações esportivas greco-romanas evidencia a importância que o esporte possuía para estes povos, além de ser instrumento para grande concentração de público (CERETO, 2004).
Este grande número de construções para abrigar espetáculos esportivos realizados durante a Era Romana apresentou um declínio durante a Idade Média, quando os povos bárbaros invadiram os domínios do Império, culminando com a decadência das cidades romanas (CERETO, 2004). Aliado a isto, a Igreja exerceu papel importante no que diz respeito à diminuição da prática de modalidades esportivas, uma vez que a proibiu por considerá-la prática pagã, banindo o esporte da sociedade (FRIED, 2005).
As práticas da época se restringiam à caça, disputa de arco e flecha, cavalaria e caça com cães. Estas atividades não requeriam, em sua maioria, um local específico para sua prática nem assentos fixos para espectadores, quando o tinham. Dessa forma, esta nova realidade colaborou para a decadência das grandes construções de instalações esportivas (CERETO, 2004; FRIED, 2005). Foram quinze séculos sem notícias da construção de alguma estrutura importante voltada para o esporte, período este que autores chegam a denominar como “hiato na história da construção de estádios” (CERETO, 2004; LA CORTE, 2007).
O ressurgimento da construção dos estádios
No início do século XIX novas instalações começaram a ser construídas. A primeira delas foi o Union Course nos Estados Unidos, em 1825, com capacidade para 60 mil espectadores, construída para a prática de corrida a cavalo (FRIED, 2005).
Na segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, o esporte passa novamente a ter importante papel na sociedade, pois esta voltou a se preocupar com a saúde e a qualidade de vida. Assim, o interesse pelas instalações onde se praticariam o esporte voltou à tona (Cereto, 2004). A volta dos Jogos Olímpicos e do ideal olímpico também contribuiu para o ressurgimento do esporte na sociedade (ARAÚJO, 2008).
Foi nesta época também que o futebol surgiu e os praticantes começaram a organizar-se na Inglaterra. Já em 1863 fundava-se a Football Association e eram estabelecidas as regras de jogo, que ainda não previam as delimitações do espaço onde ocorreria a partida de futebol (Holzmeister, 2005). Recomendações acerca das delimitações do campo de jogo seriam estabelecidas apenas em 1882, quando foi determinado que o campo de jogo de futebol fosse demarcado por uma linha branca, separando formalmente os jogadores dos espectadores (ELIAS ; DUNING, 1992).
A partir deste desenvolvimento inicial da modalidade, podemos caracterizar o período que se segue como o do início das construções dos estádios de futebol, que inicialmente foram concebidos para o conforto de classes mais abastadas da sociedade, e que hoje assume um papel primordial para a realização de uma partida, abrigando públicos diferenciados. Nesta época, foram introduzidas outras regras com intuito de controle da torcida. O objetivo de separar jogadores e torcedores trouxe como consequência o surgimento do que hoje chamamos de estádio (Holzmeister, 2005).
Com o aumento da popularidade da modalidade, o número de espectadores nas partidas apresentou aumento ao longo dos anos. A média de público na Inglaterra passou de 4.600 em 1888 para 13.200 em 1898, atingindo o patamar de 23.100 espectadores em cada partida por volta de 1910. Tornou-se necessário, então, acomodar este número crescente de espectadores (Giulianotti, 2002). O White City Stadium é considerado o primeiro dos estádios modernos. Construído em 1908, em Londres, a instalação tinha capacidade para 150.000 espectadores (LA CORTE, 2007).
Neste período inicial da construção de estádios não havia uma forma fixa determinada. Somente depois de 30 anos eles começaram a ser construídos em forma elíptica, com arquibancadas abertas e inclinadas, como os anfiteatros romanos (GIULIANOTTI, 2002; LA CORTE, 2007).
Outra característica desta fase inicial da construção dos estádios é que somente espectadores das classes mais altas, assim como dirigentes dos clubes, possuíam assentos cobertos para acompanhar a partida. O restante da população, que não possuía meios para frequentar estes assentos, assistia às partidas em pé nos chamados “terraces” (Holzmeister, 2005). Estes locais mais populares eram constituídos de camadas de concreto, muitas vezes amontoados aos entulhos do local (SPAMPINATO, 2010). Por esta razão, muitos dos locais dos estádios não eram capazes de dar ao espectador uma boa visão do jogo que se realizava (GIULIANOTTI, 2002).
Ainda segundo Holzmeister (2005), a expansão dos espectadores no futebol deve-se a estrutura profissional que se formava, uma liga que estava em crescimento, e às grandes instalações que estavam sendo construídas para os jogos. O estádio de Wembley, com capacidade para 100 mil pessoas, construído em Londres no ano de 1923, contribuiu para isso, além do San Siro em Milão, destaques modernos da década de 1920 (ARAÚJO, 2008). Em meados desta década os maiores estádios se encontravam nas cidades de Londres e em Glaslow (LA CORTE, 2007).
Segundo Holzmeister (2005), entre 1892 e 1903 foram inaugurados três grandes estádios na Escócia, o Celtic Park, o Ibrox e o Hampden Park, todos eles com grande capacidade de acomodar torcedores. Ao longo dos anos estes passaram por obras de ampliação de suas capacidades. Na mesma situação encontravam-se os estádios britânicos, mas em ambos os casos raramente realizavam-se reformas efetivas e não só de ampliação de lugares. Somente nas décadas de 1930 e 1940 que grandes estádios viriam a ser construídos em maior número no restante da Europa (LA CORTE, 2007).
A era da expansão e a segurança
Ao longo dos primeiros anos do século XX a maioria dos clubes ingleses construiu seus próprios estádios. Posteriormente, as instalações passaram por diversas reformas, inicialmente para ampliação de suas acomodações e depois para se adequar aos critérios de segurança estabelecidos para os estádios, o que levou a diminuição desta capacidade de acomodação (Holzmeister, 2005).
Estes critérios de segurança provocaram modificações nas estruturas dos antigos estádios e deu-se devido ao grande número de tragédias que ocorreram nos estádios ingleses na virada do século XIX para o XX (Holzmeister, 2005). Durante o período de 1901 a 1910 a segurança da população que assistia aos jogos de futebol não era regulamentada pelo governo ou qualquer outra agência externa (JOHNES, 2004).
Em 1923, um grande número de pessoas feridas durante a disputa da Copa da Inglaterra levou o Parlamento Inglês a criar um primeiro relatório prevendo medidas para a melhora das condições nos estádios (Giulianotti, 2002). Mas ao longo dos anos tragédias assolando os torcedores continuaram a ocorrer, pois poucos estádios acataram as novas normas estabelecidas (LA CORTE, 2007).
Diante da oposição das autoridades e governo de legitimar uma legislação para o futebol, a polícia pouco podia fazer. Esta apenas exprimia suas preocupações e esperava que os clubes colocassem a casa em ordem (JOHNES, 2004), mas não havia como cobrar ou inspecionar as instalações, pois não havia regulamentação vigente.
Talvez por esta razão o futebol inglês continuasse a sofrer com as tragédias em seus gramados. Vale lembrar também que durante o período da Segunda Guerra Mundial pouco ou quase nada foi feito no que diz respeito à construção de novas instalações esportivas. Somente a partir da década de 1950 foram retomadas as construções de grandes estádios (ARAÚJO, 2008).
O futebol foi se tornando cada vez mais popular no período pós-guerra e durante partida da Copa FA em Burnden Park em março de 1946, problemas como superlotação e instalações deficientes ficaram evidentes (JOHNES, 2004).
Mesmo com esta retomada nas construções de novos estádios, muitas instalações ainda continuaram deficitárias no que se refere a condições de segurança. Após várias tentativas de regulamentar os estádios de futebol com a emissão de vários outros relatórios, em 1986 foi lançado o que ficou conhecido como Relatório Popplewell (LA CORTE, 2007), que trouxe recomendações para os estádios de forma a tornar o espetáculo mais seguro. Uma delas referia-se a utilização de circuito fechado de televisão para o monitoramento de torcedores dentro do estádio. Mas o relatório ainda era falho no que dizia respeito a questões de infraestrutura, como o estado das arquibancadas e a utilização de grades como forma de contenção da torcida, que foram deixados de lado no documento (Giulianotti, 2002).
Estas questões não discutidas pelo Relatório Popplewell colaboraram para a ocorrência de contínuas tragédias nos estádios ingleses, como o incidente no estádio de Sheffield Hillsborough no ano de 1989 (Holzmeister, 2005). Este acidente de grandes proporções, no qual 96 pessoas morreram, teve papel importante no que diz respeito à reforma destes espaços, principalmente porque outras partes da Europa, como Alemanha e Itália, possuíam instalações em condições melhores do que as encontradas no Reino Unido (Giulianotti, 2002).
No ano de 1990 foi promulgado pelo Parlamento Inglês o nono e mais importante relatório de regulamentação para os estádios: o Taylor Report. Neste relatório foram apontados como causas gerais das tragédias que ocorriam nos estádios ingleses a combinação de pobres instalações utilizadas pelo esporte e o deficitário sistema de gestão das multidões que assistiam aos jogos, tratadas muitas vezes com agressividade (SIR NORMAN CHESTER CENTRE FOR FOOTBALL RESEARCH, 2002).
O relatório final contou com 76 recomendações e ainda trouxe à luz da discussão temas como as pobres instalações e os serviços no futebol, a venda de bebidas alcoólicas nos ou próximo aos estádios (apontada como possível causa de desordem por parte da torcida), a atitude sensacionalista de jornais e televisão e os efeitos do hooliganismo e a segregação de espectadores (SIR NORMAN CHESTER CENTRE FOR FOOTBALL RESEARCH, 2002).
Dentre as recomendações feitas pelo relatório, destaca-se:
Restrição na capacidade dos estádios;
Monitoramento do público pela polícia e comissários, que seriam treinados para este tipo de intervenção;
Gradual troca dos chamados “terraces” por locais com assento em todas as arquibancadas, sendo que para cada clube foi estipulado um prazo para realizar esta reforma, dependendo da divisão que o time disputava;
Revisão imediata dos certificados de segurança de todas as instalações;
Nova provisão de serviços de emergência e primeiros socorros;
Introdução de novas leis de acordo com o número de delitos ocorridos dentro dos estádios, incluindo manifestações de racismo (canções) e arremesso de objetos no campo.
A aplicação das orientações contidas no Taylor Report mudou drasticamente a conformação dos estádios britânicos e tornou-se popular em toda a Europa, uma vez que iniciou um processo de modernização de muitos estádios em outros países (SPAMPINATO, 2010).
A era da modernização e o espetáculo esportivo
Concomitantemente com o Taylor Report, outro documento foi redigido e começou a ser adotado pelos países da União Europeia no ano de 1985: o European Convention on Spectator Violence at Sport Events(ECSV) (UNIÃO EUROPÉIA, 1985), com objetivo de combater a violência nos estádios e em eventos esportivos (CURI, JUNIOR, MELO, ROJO, FERREIRA E SILVA, 2008).
Em abril de 2000 foi aprovado pela UEFA um caderno de instruções a respeito de segurança em estádios de futebol. Em dezembro de 2003 este sofreu uma revisão e foi aprovado por um Comitê Executivo da UEFA e implantado em 2004 (UEFA, 2003). O Binding Safety and Security Instructions (UEFA, 2003) determinava o tipo acomodação nos estádios conforme o nível das competições (internacionais, nacionais, de segunda divisão), o processo de venda de ingressos, as inspeções da instalação, as forças de segurança que garantiriam a ordem nos jogos, requisitos para estas instalações (como número de portões, áreas de estacionamento, proteção para a área de jogo, sala de controle do estádio – sistema de monitoramento), a proibição da distribuição de álcool, dentre outras provisões.
Fica claro que já neste momento as preocupações da União Européia a respeito da segurança nos estádios estavam bem avançadas e as instruções contribuíam de forma significativa para a organização do esporte no continente Europeu. Ainda neste documento já era previsto em anexo um plano contra as ações racistas em estádios de futebol, mostrando a preocupação da entidade não só com as questões de segurança, mas com as questões sociais como um todo (UEFA, 2003).
No ano de 2006 a Union des Associations Européennes de Football (UEFA), lançou o documento UEFA Safety and Security Regulations, que previa, além dos quesitos já mencionados nas instruções de 2003, uma cooperação entre os responsáveis pela segurança, os responsáveis pelas inspeções nos estádios e os responsáveis pelo serviço de emergência, para que o trabalho fosse realizado de forma que uma organização prévia pudesse garantir o mínimo de riscos aos espectadores do evento.
O suporte aos times visitantes também ganhou destaque e no tópico referente ao controle dos espectadores foram adicionadas questões como a ação policial, discussão sobre ações racistas e provocativas por parte de torcida, a possibilidade de transmissão de reprises das jogadas (os chamados replays) em telões instalados nos estádios, dentre outras questões que vão além da segurança e começam a versar cada vez mais a respeito do conforto do espectador e dos participantes do espetáculo esportivo (UEFA, 2006a).
Nesta mesma linha de ação, no mesmo ano foi lançado o UEFA Stadium Insfraestructure Regulations, no qual já era possível verificar critérios definidos para a estrutura de espaços como a área de jogo, as áreas destinadas aos espectadores, as áreas destinadas à imprensa, ao combate ao doping, as áreas vips, dentre outras (UEFA, 2006b). Este documento já descrevia as metragens mínimas para determinados espaços e os requisitos para os mesmos.
A UEFA emitiu uma nova edição do UEFA Stadium Insfrastructure Regulations (UEFA, 2010a) onde estão definidos critérios para as instalações, e ainda no mesmo ano é apresentado o UEFA Club Licensing and Financial Fair Play Regulations, que tem por objetivos, dentre outros:
Garantir um nível adequado de administração e organização dos clubes participantes da liga europeia;
Adaptar os clubes a oferecer aos jogadores, espectadores e mídia, instalações seguras;
Seguir no desenvolvimento dos clubes tanto no que diz respeito aos aspectos financeiros, legais, profissionais, de esporte e de administração como de critérios para infraestruturas na Europa (UEFA 2010b).
Neste documento ainda são determinados os direitos, deveres e responsabilidades de todas as partes envolvidas nos sistemas de licenciamento da UEFA, ou seja, as exigências mínimas para se tornar membro associado da UEFA e participar das competições de clubes da entidade, quanto a infraestrutura, ao esporte e as bases financeiras, administrativas e legais para o funcionamento dos clubes (UEFA 2010b).
Fica evidente, ao se observar a evolução do conteúdo destes documentos e a profundidade e abrangência das questões abordadas, que a organização das entidades e dos clubes (incluindo a estrutura das instalações esportivas) na Europa se faz hoje de um modo profissional, voltada ao negócio futebol. Destacam-se claramente as etapas de construção pelas quais estes documentos passaram até o que se apresenta hoje: a gestão consciente de clubes e instalações esportivas.
Segundo ARAÚJO (2008), atualmente os estádios não podem mais ser encarados como mero local para a prática esportiva, o que vemos claramente nos cadernos de encargos apresentados aos clubes europeus.Neste processo de mudanças que ocorreram nos estádios de futebol nos últimos anos, a televisão também teve um importante papel, com as transmissões televisionadas para todo o mundo.
A valorização da modalidade pela mídia também exigiu que espaços dentro dos estádios fossem destinados a este segmento, disponibilizando toda a tecnologia disponível para transmissão dos jogos (FIFA, 2007). O espaço destinado à publicidade também se torna importante (CERETO, 2003), pois é hoje uma grande oportunidade de angariar fundos por parte dos clubes.
A própria mudança no perfil dos espectadores, que passaram a procurar conforto e segurança nos estádios, ao contrário das exigências do público no passado (ARAÚJO, 2008), faz com que cada vez mais este público exija instalações confortáveis. Torna-se cada vez mais importante dentro da estrutura montada nos estádios a disponibilização de espaços destinados a pequenos grupos, dotados de muito conforto, comodidade e contando com atendimento personalizado, os chamados camarotes (CERETO, 2003).
Outro aspecto que contribui para o conforto e a qualidade do espetáculo é fruto da evolução tecnológica, que implementa nos estádios estruturas futuristas como tetos de domo, campos retráteis que saem do estádio para tomar sol ou quando há algum outro evento ocorrendo no interior da instalação, estruturas que possuem a opção de rotação e arquibancadas retráteis no caso de utilização do campo para outros fins que não o jogo de futebol (FRIED, 2005).
Os clubes, com gestão cada vez mais profissional, tendem a ver no estádio uma oportunidade de fonte de renda não só advinda da venda de ingressos, mas de locação para shows e convenções, ou seja, funções além dos jogos que normalmente ocorrem no estádio, e da publicidade que se pode explorar no espaço.
O conceito de arena tem sobrepujado o de estádio, levando não só a construção do campo de jogo e instalações para o público, mas o desenvolvimento agregado de outras estruturas próximas, como centros comerciais, hotéis, estacionamentos, centros culturais e gastronômicos, entre outros.
Há hoje uma preocupação mais do que evidente da própria FIFA quanto aos estádios onde se realizam seus campeonatos. Embora tardiamente, a entidade estabeleceu critérios para adequação dos estádios e determinou a necessidade da entidade aprovar as instalações para competições oficiais.
Esta é uma das evidências de que estas estruturas ganharam importância no espetáculo esportivo ao longo dos séculos e se tornaram hoje um dos atores principais no espetáculo futebolístico.
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UNIÃO EUROPÉIA, European Convention on Spectators Violence and Misbehaviour at Sports Events and Particular at Football Matches, Strasbourg, European Treaty Series - No. 120, 19.VIII.1985.
- Fonte: EFD
- Link - http://efdeportes.com/
Blog JÂNIO COACH : Link - http://janiocoach.blogspot.com/
Coluna escrita por Jânio Bernardino da Silva (treinador de futebol).